terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O multifacetado funk carioca

Pesquisador afirma existência de 10 variações do gênero

Por Thayná Rodrigues*

O doutorando em Comunicação Social, Pablo Laignier, apresentou em entrevista coletiva, dia 15 de abril, um dos temas principais de sua pesquisa: o funk carioca. Ele garantiu a existência de aproximadamente 10 tipos do gênero musical e ressaltou ainda as suas variadas finalidades. Laignier trouxe à tona informações pouco conhecidas a respeito do funk e abordou assuntos polêmicos como direitos autorais, pornografia e criminalização.

O estilo musical, segundo o pesquisador, retrata a característica do momento urbano pós-moderno. A pouca elaboração das letras e o ritmo veloz traduzem a experiência cotidiana da cidade e a distração ao rebuscamento. “O funk é crônica social, em certa medida; a música mostra um pouco da desesperança”, afirmou. Para Laignier existe sim, no funk, manifestação político-social: “a política não acabou, existe uma falta de perspectiva manifestada nas letras”.

Como gênero musical, o ritmo do funk (a batida) é o que o caracteriza. Porém, de acordo com o pesquisador, existem notáveis diferenças entre um tipo e outro, principalmente no que se refere à temática. O Funk Melody, por exemplo, apresenta letras românticas e sonoridade envolvente; o Debochado destaca-se pelas batidas aceleradas e temática cômica. Já o Proibido pode ainda ser subdivido em duas categorias – o Proibidão Pornográfico e o Proibidão relacionado ao narcotráfico.

Todos os itens desta tipologia abrangem um “público-alvo” definido ou têm destino certo. Como ressaltado pelo especialista, o funk pornográfico é música para adultos, assim como existem funks infantis, com letras leves e divertidas; alguns “proibidões” têm o objetivo de enviar recados a outras comunidades e os funks “debochados” visam proporcionar diversão.

Também foi abordada a estigmatização do funk pela imprensa hegemônica, ao ser retratado principalmente nas páginas policiais. Laignier ressaltou que o funk não deve ser generalizado como veiculador de violência e de conteúdos impróprios para menores e que a relação de alguns MC’s com o crime não deve prejudicar a imagem geral do gênero. A justificativa é que se trata de um elemento artístico-social e a maioria dos autores, segregados da sociedade e à margem da indústria musical, não está envolvida com o tráfico de drogas ou com ações ilegais. Concluiu que falta ainda um amplo reconhecimento deste gênero como manifestação cultural das comunidades e como difusor de criatividade e inovação por parte de seus autores.

Publicado em LECC - UFRJ:
http://leccufrj.wordpress.com/2011/05/07/o-multifacetado-funk-carioca-pesquisador-afirma-a-existencia-de-10-variacoes-do-genero/

Na frequência das rádios comunitárias

Representante nacional da Associação Mundial das Rádios Comunitárias fala para alunos da Escola de Comunicação da UFRJ

Por Thayná Rodrigues

O pesquisador e representante nacional da AMARC Brasil, João Paulo Malerba, concedeu entrevista coletiva a alunos do Laboratório de Comunicação Crítica: do curso de Comunicação Social da UFRJ. A palestra teve como destaque a Legislação Brasileira de Comunicação e o tema principal de sua pesquisa: as Rádios Comunitárias. O discurso do jornalista é, especialmente, em defesa de uma esfera comunicacional plural e democrática, tendo como referência o papel desses veículos na construção de identidades locais e no desenvolvimento da cidadania.

No início da coletiva, o pesquisador explicou detalhadamente como é constituída a Legislação Brasileira de Comunicação e ressaltou a importância da criação de uma nova lei que dê conta da demanda atual, considerando que a lei em vigor data de 1962. Uma das prováveis razões para a lentidão nas mudanças deste setor é a grande concentração de concessões nas mãos de grupos e famílias dominantes da comunicação brasileira, sobretudo de parlamentares. “Um ambiente concentrado impede a pluralidade de idéias e vozes na comunicação”, afirmou Malerba, enfatizando o discurso em prol da democracia comunicacional.

Ao realizar uma comparação com a legislação Argentina sobre o tema, o pesquisador informou o avanço daquele país neste setor: “Na Argentina, os habitantes do país foram às ruas lutar por uma Comunicação democrática. Em nosso país essa mobilização social é ausente”. O pesquisador acrescentou que no período de autorização de concessões comunicacionais na Argentina são agendadas audiências públicas para discutir o processo.

É no cenário oposto que a Radiodifusão Comunitária procura espaço no Brasil. Ao mesmo tempo em que as possibilidades técnicas, operacionais e comunicativas evoluem em alta velocidade, a esfera política e hegemônica impede a regulação das leis já conquistadas. As grandes empresas de comunicação veiculam ideias que relacionam pirataria às rádios livres e a legislação burocratiza a regulação. Já para as comunidades, estes tipos de rádio inauguram a possibilidade de serem reconhecidas, contudo a repressão faz parte do cotidiano dos que tentam a legalização.

“Os veículos comunitários buscam desempenhar um papel de articulação no mundo globalizado, negociando estímulos globais com a memória histórica local”, observou Malerba. Mais do que isso, as comunidades precisam alcançar o poder de se reconhecerem e fazerem ecoar suas vozes, suas necessidades e sua cultura.

Publicado em LECC-UFRJ:
http://leccufrj.wordpress.com/2011/06/16/na-frequencia-das-radios-comunitarias/

Pesquisador ressalta funções de projeto social na esfera comunitária

Por Thayná Rodrigues

Em entrevista coletiva, concedida a alunos de Comunicação Social da UFRJ, o pesquisador Ricardo Moraes relatou experiências na organização e participação do Projeto Social “Teatro pela Comunidade”. Trata-se de uma oficina de teatro em que os participantes são os próprios moradores. Além de compor o elenco de atores, eles também ficam responsáveis pela produção artística e pela direção dos espetáculos.

O projeto começou capacitando oficineiros e professores da comunidade para que as atividades prosseguissem em outros locais. Porém, segundo afirmou o pesquisador, a oficina de teatro tem inúmeras funções, além de levar os alunos a uma cultura participativa na arte de atuar. Um dos principais aspectos da atuação do Teatro pela Comunidade é a vertente de transformação sobre aquele grupo de pessoas. Como afirmou Moraes, “o teatro procura incidir auto-reconhecimento e a visão de uma identidade própria do grupo, tão necessários para a sua existência no âmbito social”.

Estas transformações, ressaltou, envolvem também a criação de uma consciência crítica sobre o coletivo comunitário, principalmente em relação às questões ideológicas de domínio da classe dominante sobre a classe “subalterna”. De acordo com o pesquisador, o teatro na comunidade apresenta-se, então, como uma forma de articulação entre os conflitos daquele lugar e de sua população. Por meio da representação artística, a troca mútua de informações favorece o laço comunitário e o desenvolvimento crítico dos participantes em uma esfera de “intelectual orgânico”.

“Há um direcionamento da estética de encenação inteiramente voltado para a verdadeira realidade social de uma comunidade. Essa realidade social encontra-se no aqui e agora em conjunto com os seus integrantes, ouvindo-os sempre”, ressaltou Moraes. Articulação de idéias, produções artísticas e pensamentos coletivos se fazem cada vez mais necessários em esferas sociais em que há uma polifonia de discursos e nem todos são ouvidos. Para o mestrando, há uma necessidade de opiniões diversas, visto que as políticas públicas envolvem decisões democráticas.

Publicado em LECC - UFRJ:
http://leccufrj.wordpress.com/2011/07/12/pesquisador-ressalta-principais-funcoes-do-projeto-social-na-esfera-comunitaria/

Ações Afirmativas na Mídia é tema de pesquisa

Por Thayná Rodrigues

A doutoranda em Comunicação Social, Zilda Martins, concedeu entrevista coletiva a alunos do Laboratório de Comunicação Crítica da UFRJ, na sexta-feira (13/05/2011). Ela falou sobre a dissertação “ações afirmativas e cotas na mídia: a construção de fronteiras simbólicas”. A pesquisa considerou o discurso dos jornais impressos O Globo, O Dia e Folha de São Paulo. Além da investigação empírica, Martins trabalhou conceitos teóricos de autores como Muniz Sodré, Todorov e Jodelet. O principal resultado destas análises foi a observação de como os atores sociais (jornalistas e não jornalistas) constroem o discurso das cotas, como produção e recepção de verdade.

Segundo a pesquisadora, as ações afirmativas foram motivadas pela luta do Movimento Negro, que na transição do século XX para o XXI, trouxe à tona um amplo discurso, denunciando o mito da democracia racial. O acontecimento mais marcante foi a Conferência Mundial de Combate ao Racismo, realizada pela ONU em 2001, ano em que o Brasil assumiu a existência do racismo e organizou políticas públicas a fim de combatê-lo. No ano seguinte, a Uerj Universidade do Estado do Rio de Janeiro, adotou as cotas, gerando grande repercussão.

O diferencial da pesquisa de Martins em relação a outros trabalhos de temática semelhante é que vai além do dualismo de “contra” ou “a favor” das cotas. O principal aspecto observado é a tensão que o tema promove e o discurso predominante nos veículos analisados. Segundo a jornalista, “a mídia polarizou muito mais o ‘contra’ e o ‘a favor’ do que aquilo que a cota representa”. Para a pesquisadora, existe uma enorme ausência de debate nos artigos e colunas publicados. “O que há é um discurso de verdade, com argumentos universalistas, a manutenção do racismo e a construção de relações de poder, disse.

Ao finalizar a entrevista, Martins concluiu que a postura da mídia aparece como um silêncio simbólico, traduz resistência à mudança, potencializa o discurso do “outro” e demoniza as cotas, excluindo seu caráter libertador. Para a jornalista, a mídia constrói um discurso de negação, pelo esquecimento, e mantém o estereótipo ao dizer “não” à educação por meio de um “não” à mobilidade social. “A discriminação racial é diferente de classe, embora o negro seja discriminado duplamente, porque é negro e porque é pobre. Enquanto o governo não assumir politicamente o negro, a desigualdade vai continuar a existir”, afirmou a pesquisadora.

Publicado em LECC - UFRJ:
http://leccufrj.wordpress.com/2011/05/29/o-discurso-das-acoes-afirmativas-na-midia-e-tema-de-pesquisa/