sexta-feira, 18 de junho de 2010

Luto?

Quantos de vocês sabem o significado da palavra luto? Quantos já sentiram pela morte de alguem? Sinto-me realmente indignada pela banalização da palavra "luto" que vem acontecendo. Parece-me um desrespeito ao sentimento de quem realmente passa por uma situação de perda. Não quero ser moralista, nem parecer implicar com tudo. Não trato da banalização de outros sentimentos (embora a banalização do amor também me incomode bastante), trato deste que envolve a dor, que envolve o pesar em uma situação peculiar.

A partir do momento que diz-se estar de luto, pelo que aprendi com a minha avó, está-se em situação de respeito ou está-se realmente sofrendo pelo que acontecera. A partir do momento que seus atos são contraditórios suas palavras ditas ou escritas de nada valem. Vovó dizia que não podíamos aumentar o rádio tempo decorrido da morte de alguém, especialmente de algum vizinho, pois era desrespeito à quem sofria. Entretanto falo de mais do que desrespeito, quando se admite para si este sentimento e ele é negado, a contradição está em você, não diz respeito ao que as pessoas à sua volta pretendem manter; não está relacionada a uma suposta consideração que deve haver.

Especificando ainda mais, é difícil não citar a superexposição que as pessoas fazem de si nas redes socias. Entenda-se superexposição não só por fotos, comentários e pensamentos declarados, mas por exagero e incoerência nas demonstrações. O "luto" também está presente aí, e foi daí que surgiu minha vontade de escrever sobre isso. Parece até que é palavra da moda, é usada a torto e a direito. É tudo tão exacerbado que falta pouco escreverem "Lutoow! ;P".

Não estou dizendo que quem perde alguém deve chorar para sempre, usar roupas pretas todo dia, nem nada nesse sentido. Aí vai de cada um. Muitos não fazem questão de dizer e às vezes até escondem o sentimento de angústia. Mas o exagero é prejudicial, parece que as coisas são ditas/declaradas de qualquer jeito; e o que se sente realmente, tanto faz? O pesar que estava erroneamente subentendido, tanto faz? Para outros não simplesmente tanto faz. Tem gente que realmente sente, e está sendo igualado a quem só declara.



quinta-feira, 10 de junho de 2010

À espera


Ela chamou atenção com seu sorriso reluzente. Em uma conversa tímida com o rapaz, sorria repetidas vezes, parecendo não ter muitos motivos para mostrar-se contente. Seus dentes eram claros e, apesar do riso fácil, era tímida. Não pude perceber como era a expressão facial do rapaz naquele instante; o muito que se notou foi que carregava uma bagagem na mão direita e tinha um "corte de cabelo das Forças Armadas". Estavam os dois na turba. E na minha mania de prestar atenção aos outros, os notei. Esperavam que a multidão andasse para que também o fizessem. Conversavam sobre coisas sem profundidade. Findou o assunto e o mesmo aconteceu com o riso da moça. A multidão andou, e o riso reluzente diminuia como a luz de um farol que se distancia para longe. Ela olhava para o chão, para os calcanhares de seus antecessores; e ele olhava para o mar, que trazia a barca onde iriam à bordo. Ela deixou a mão direita livre, para que a esquerda dele a encontrasse... Elas se esbarraram, mas ele desviou o trajeto natural da sua forjando um comichão na própria barriga. Ela insistiu em deixar sua mão livre, e seu sorriso relampejou, tentando reacender-se ao fitar os olhos dele. Ele dirigiu a ela o seu olhar, sorriu, entretanto sua mão não correspondeu à sua expressão facial, procurou outros desvios, talvez a bolsa que carregava, talvez a barba serrada. Na multidão abriram-se espaços, e ele decidou por um caminho para o qual ela não estava direcionada a ir. Ele tendeu à direita, ela pensava na esquerda. Ela abriu mão de seu pensamento e foi atrás do rapaz, ao seu lado. E sua mão direita continuava à espera. Seguiram o mesmo caminho, lado a lado. Ela com seu sorriso reticente e ele reticente por si só.
Fotografia: Yuri Reis