quinta-feira, 10 de junho de 2010

À espera


Ela chamou atenção com seu sorriso reluzente. Em uma conversa tímida com o rapaz, sorria repetidas vezes, parecendo não ter muitos motivos para mostrar-se contente. Seus dentes eram claros e, apesar do riso fácil, era tímida. Não pude perceber como era a expressão facial do rapaz naquele instante; o muito que se notou foi que carregava uma bagagem na mão direita e tinha um "corte de cabelo das Forças Armadas". Estavam os dois na turba. E na minha mania de prestar atenção aos outros, os notei. Esperavam que a multidão andasse para que também o fizessem. Conversavam sobre coisas sem profundidade. Findou o assunto e o mesmo aconteceu com o riso da moça. A multidão andou, e o riso reluzente diminuia como a luz de um farol que se distancia para longe. Ela olhava para o chão, para os calcanhares de seus antecessores; e ele olhava para o mar, que trazia a barca onde iriam à bordo. Ela deixou a mão direita livre, para que a esquerda dele a encontrasse... Elas se esbarraram, mas ele desviou o trajeto natural da sua forjando um comichão na própria barriga. Ela insistiu em deixar sua mão livre, e seu sorriso relampejou, tentando reacender-se ao fitar os olhos dele. Ele dirigiu a ela o seu olhar, sorriu, entretanto sua mão não correspondeu à sua expressão facial, procurou outros desvios, talvez a bolsa que carregava, talvez a barba serrada. Na multidão abriram-se espaços, e ele decidou por um caminho para o qual ela não estava direcionada a ir. Ele tendeu à direita, ela pensava na esquerda. Ela abriu mão de seu pensamento e foi atrás do rapaz, ao seu lado. E sua mão direita continuava à espera. Seguiram o mesmo caminho, lado a lado. Ela com seu sorriso reticente e ele reticente por si só.
Fotografia: Yuri Reis

Um comentário: